O dinheiro é bello


        L. do D.

O dinheiro é bello,
porque é uma liberta-
ção,

Querer ir morrer a Pekim
e não poder é das cousas
que pesam sobre mim
como a idéa d'um cataclysmo
vindouro proximo.

Os compradores de cousas
inuteis sempre são mais
sabios do que se julgam —
compram pequenos sonhos.
São crianças no adquirir.
Todos os pequenos objectos
inuteis cujo acenar
ao saberem que têm
dinheiro os faz compral-os,
possuem-os na attitude


feliz de uma creança
que apanha conchinhas
na praia — imagem
que mais do que ne-
nhuma dá toda
a felicidade pueril.
Apanha conchas na
praia! Nunca ha
duas eguaes para a
creança. Adormece
com as duas mais
bonitas na mão, e
quando lh'as perdem
ou tiram — o crime!
roubar-lhe bocados
exteriores da alma!
arrancar-lhe pedaços
de sonho! — chora
como um Deus a quem
roubassem um universo recem-creado.



Identificação: bn-acpc-e-e3-9-1-52_0075_35_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-9-1-52_0077_35_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (22.0cm X 11.5cm, 22.0cm X 11.5cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Com marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis.
Data: 1913 (low)
Nota: LdoD, Texto escrito nas duas meias páginas do verso de uma folha de um impresso de 'Proposta para Hypotheca', dobrada em bifólio.
Fac-símiles: BNP/E3, 9-35.1 , BNP/E3, 9-35.2 , BNP/E3, 9-35.3