Semântica da Vida - Usa (BNP/E3, 27(23)-82)

Agi sempre para dentro...


O céu é tudo azul, corre um ar louco
pelos prados... A relva brilha de
manhã...

Raia o sol! Raia o sol!
                  (Man)
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Agi sempre para dentro... Nunca
toquei na vida... Sempre que esboçava
um gesto, acabava-o em sonho,
heroicamente... Uma espada pesa
mais que a ideia de uma espada...
Commandei grandes exercitos —
venci grandes batalhas, gosei grandes
derrotas — tudo dentro de mim...

Gostava de passear sósinho pelas
alamedas e pelos grandes corredores
e de commandar as arvores e
desafiar os retratos das paredes...
No grande corredor sombrio que ha
ao fundo do palacio passeei com a
minha noiva muitas vezes... Eu nunca


tive noiva real... Nunca soube como
se amava... Apenas soube como se
sonhava amar... Se eu gostava de
usar anneis de dama nos meus
dedos é que ás vezes queria julgar
que as minhas mãos eram de princeza
e que eu era, pelo menos no gesto
das minhas mãos, aquella que eu amava...

Um dia fôram-me encontrar vestido
de rainha... Eu estava sonhando
que eu era a minha esposa regia...
Gostava de vêr a minha face reflectida
porque podia sonhar que era a
face de outra criatura — porque
era de formas femininas, que era
de minha amada que era a
minha face reflectida... Quantas
vezes a minha boca tocou
na minha boca n'esse espelho!... Quantas
vezes apertei uma das minhas mãos com a
outra, quantas adorei acariciei meus cabellos
com a minha mão alheada, para
que parecesse d'ella ao tocar-me. Não sou eu que te estou di-
zendo isto... É o resto de
mim que está fallando.