Marcha Funebre


MFunebre

Que faz cada um neste mundo, que o perturbe
ou o altere? Cada homem que vale, que outro
homem não valha? Valem os homens vulgares
uns pelos outros, os homens de acção pela
força que interpretam, os homens do pensa-
mento por o que criam.

O que criaste para a humanidade, está
á mercê do esfriamento da Terra. O que
déste aos posteros, ou é cheio de ti, e
ninguem o entenderá, ou da tua epocha,
e as outras epochas o não entenderão,
ou tem appello para todas as epochas, e não
o entenderá o abysmo final, em que
todas as epochas se precipitam.

Fazemos, penumbra, gestos na sombra. Por
detraz de nós o Mysterio nos .

Somos todos mortos, como uma duração justa.
Nunca maior ou menor. Alguns morrem logo que
morrem, outros vivem um pouco, na memoria dos que os
viram e ouviram; outros, ficam na memoria da nação
que os teve; alguns alcançam a memoria da
civilização que os possuiu; raros abrangem, de lado a
lado, o lapso contrario de civilizações differentes... Mas
a todos cerca o abysmo do tempo, que por fim os some,
a todos come a fauce do abysmo, que


O perenne é um Desejo, e o eterno uma
illusão.


Morte somos e morte vivemos. Mortos nascemos;
mortos passamos; mortos já, entramos na
Morte.


Tudo quanto vive, vive porque muda; muda
porque passa; e, porque passa, morre. Tudo
quanto vive perpetuamente se torna outra
cousa, constantemente se nega e se furta á
vida.

A vida é pois um intervallo, um nexo,
uma relação, mas uma relação entre
o que passou e o que passará, intervallo morto
entre a Morte e a Morte.

a intelligencia, ficção da superficie e do
descaminho.

A vida da materia ou é puro sonho, ou mero jogo
atomico, que desconhece as conclusões da nossa in-
telligencia e os motivos da nossa emoção. Assim
a essencia da vida é uma illusão, uma apparencia, e ou ha
só ser ou não-ser, e a illusão e apparencia
não sendo ser, teem que ser não ser, a vida é a morte.


Vão o exforço que constróe com os olhos na illusão
de não morrer! "Poema eterno", dizemos nós; "pala-
vras que nunca morrerão". Mas o esfriamento
material da terra levará não só os
vivos que a cobrem, com o

Um Homero ou um Milton não podem
mais que um cometa que bata na terra.
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Tão pouca cousa!
Mas ha oasis pequenos.
Coração deserto
Minutos serenos
Não os teus decerto...

Oasis não grande


Identificação: bn-acpc-e-e3-138a-1-82_0065_33_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-138a-1-82_0066_33v_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-138a-1-82_0067_34_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (30.3cm X 20.1cm, 30.3cm X 20.1cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta.
Data: 1920 (low)
Nota: , Texto escrito em recto e verso de duas meias folhas de papel pautado com marca de água "ALMAÇO PRADO". O verso da segunda meia folha contém dois versos cancelados e a primeira estrofe de um poema. Pizarro constata que "existe um poema de 3-12-1917, que começa «Socégo emfim. Meu coração deserto» (58-65r), ligeiramente anterior ao poema «Marcha Funebre» (66C-11r), que é posterior a 5-2-1917" (Pizarro, 2010: 738).
Fac-símiles: BNP/E3, 138A-33-34r.1 , BNP/E3, 138A-33-34r.2 , BNP/E3, 138A-33-34r.3 , BNP/E3, 138A-33-34r.4