Jacinto do Prado Coelho - edição anotada - Usa Jacinto do Prado Coelho(92)

Symphonia de uma noite inquieta


L. do D.

Symphonia de uma noite inquieta

Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento, flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada sobre um quartel sem ser.

Esfarrapava-se cousa nenhuma no ar alto e forte, e os caixilhos das janellas saccudiam os vidros para que a extremidade se ouvisse. No fundo de tudo, calada, a noite era o tumulo de Deus (a alma soffria com pena de Deus).

E, de repente, — nova ordem das coisas universaes agia sobre a cidade — o vento assobiava no intervallo do vento, e havia uma noção dormida de muitas agitações na altura. Depois a noite fechava-se como um alçapão, e um grande socego fazia vontade de ter estado a dormir.