A doçura de não ter familia
L. do D.
A doçura de não ter familia nem companhia, esse suave
gosto como o do exilio, em que sentimos o orgulho do
desterro esbater-nos em volupia incerta a vaga inquieta-
ção de estar longe — tudo isto eu góso a meu modo, indif-
ferentemente. Porque um dos detalhes caracteristicos da
minha attitude espiritual é que a attenção não deve ser
cultivada exaggeradamente, e mesmo o sonho deve ser olha-
do ∧do alto, com uma consciencia aristocratica d[e] o estar
fazendo existir. Dar demasiada importancia ao sonho seria
dar demasiada importancia, afinal, a uma cousa que se
separou de nós proprios, que se ergueu, conforme poude,
em realidade, e que, porisso, perdeu o direito absoluto
á nossa delicadeza para com ella.
As figuras imaginarias teem mais relevo
e verdade que as reaes.
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O meu mundo imaginario foi sempre
o unico mundo verdadeiro para mim.
Nunca tive amores tão reaes, tão
cheios de verve de sangue e de vida como
os que tive com figuras que eu proprio ∧criei.
Que horas!
Tenho saudades d'ellas, porque,
como os outros, passam...