= Não me indigno, porque a indignação é para
os fortes; não me resigno, porque a re-
signação é para os nobres; não me calo,
porque o silencio é para os grandes. E
eu não sou forte nem nobre nem grande.
Soffro e sonho. Queixo-me porque
sou fraco e , porque sou artista, entre-
tenho-me a tecer musicaes as minhas
queixas e a arranjar meus sonhos conforme
me parece melhor á minha idea de
os achar bellos.
Só lamento o não ser creança, para que
pudesse crêr nos meus sonhos, o não ser
doido para que pudesse affastar da
alma de todos os que me cercam, de ser
Tomar o sonho por real, viver demasia-
do os sonhos deu-me este espinho á rosa
falsa de minha sonhada vida: que nem
os sonhos me agradam, porque lhes acho defeitos.
Nem com pintar esse vidro de sonhos
coloridos me occulto o rumor da vida
alheia ao meu obtel-a, do outro lado.
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Ditosos os fazedores de systemas pessimistas!
Não só se amparam de ∧a ter feito qualquer
cousa, como tambem se alegram
∧do explicado, e se
incluem na dôr universal.
Eu não me queixo pelo mundo.
Não protesto em nome do universo.
Não sou pessimista. Soffro e queixo-
me, mas não sei se o que ha
de geral é o soffrimento nem
sei se é humano soffrer. Que
me importa saber se isso é
certo ou não?
Eu soffro, não sei se merecidamente.
(Corça perseguida).
Eu não sou pessimista, sou triste.