Eu não creio, é claro
Eu não creio, é claro, que
haja factos.
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De resto, só trez cousas real-
mente distinctas existem —
uma é o tedio, outra é a
castidade, outra é o racioci-
nio.
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A Evolução da Inacção
A unica vantagem assente deste
modo moderno de nos arreliar-
mos
com muita cousa e termos
muitas contas a pagar ao que se
chame a civilização moderna, é
as facilidades, mais psychicas do
que physicas, que concede a quem
se dedica ao unico mister nobre
que hoje resta — o officio de não
fazer nada. Oscar Wilde já escreveu
sobre este ponto, deixando, como era
seu costume, tudo por dizer sobre o
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assumpto. Elle porém tratou-o do
ponto de vista artistico, deixando, pois,
ainda mais para dizer sobre o assumpto ∧do que era de esperar.
Porque o que realmente urge e supre
a inacção não é o tornal-a con-
templação artistica — esse é um uti-
litarismo de onanista ∧café janota ∧poeta —, é o
empregal-a apenas para não
satisfazer fim nenhum. Desde que
não sei que creatura mal-
pensante deu em metter na
peanha dos comuns que se não
devia fazer nada porque isso era
bello, ficava por vêr o que
havia a ver no problema... O que,
de facto, ha de realmente bello
na inacção não é o ella ser
bella ou commoda; é o ella
ser inacção... Todo o outro
conceito que d'ella se faça é
deturpador e peripatetico. Vamos
á parte seria do caso. E não es-
queçamos nunca que é da evolução da inacção que
havemos de vir a tratar.