Lagôa da Posse


Lagôa da Posse

/ A posse é [,] para mim, uma lagoa absurda — muito grande, muito escura, muito pouco profunda. Parece funda a agua porque é falsa de suja. /

A morte? Mas a morte está dentro da vida. Morro totalmente? Não sei da vida. Sobrevivo-me? Continuo a viver.

O sonho? Mas o sonho está dentro da vida. Vivemos o sonho? Vivemos. Sonhamol-o apenas? Morremos. E a morte está dentro da vida.

Como a n[ossa] sombra a vida persegue-me. E só não ha sombra quando tudo é sombra. A vida só nos não persegue quando nos entregamos a ella.

O que ha de mais doloroso no sonho é não existir. Realmente, não se pode sonhar.

O que é possuir? Nós não o sabemos. Como querer então poder possuir qualquér cousa? Direis que não sabemos o que é a vida, e vivemos... Mas nós vivemos realmente? Viver sem saber o que é a vida será viver?


Título: Lagôa da Posse
Heterónimo: Não atribuído
Número: 23
Página: 30
Data: 1913 (low)
Nota: [9-47r];