123123 - Usa Jerónimo Pizarro(164)

Marcha Funebre


M[archa] Funebre

Que faz cada um neste mundo, que o perturbe ou o altere? Cada homem que vale, que outro homem não valha? Valem os homens vulgares uns pelos outros, os homens de acção pela força que interpretam, os homens do pensamento por o que criam.

O que criaste para a humanidade, está á mercê do esfriamento da Terra. O que d'este aos posteros, ou é cheio de ti, e ninguem o entenderá, ou da tua epocha, e as outras epochas não o entenderão, ou tem appello para todas as epochas, e não o entenderá o abysmo final, em que todas as epochas se precipitam.

Fazemos, penumbra, gestos na sombra. Por detraz de nós o Mysterio nos ☐.

Somos todos mortaes, como uma duração justa. Nunca maior ou menor. Alguns morrem logo que morrem, outros vivem um pouco, na memoria dos que os viram e ouviram; outros, ficam na memoria da nação que os teve; alguns alcançam a memoria da civilização que os possuiu; raros abrangem, de lado a lado, o lapso contrario de civilizações differentes... Mas a todos cerca o abysmo do tempo, que por fim os some, a todos come a fauce do abysmo, que ☐

O perenne é um Desejo, e o eterno uma illusão.

Morte somos e morte vivemos. Mortos nascemos; mortos passamos; mortos já, entramos na Morte.

Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra cousa, constantemente se nega e se furta á vida.

A vida é pois um intervallo, um nexo, uma relação, mas uma relação entre o que passou e o que passará, intervallo morto entre a Morte e a Morte.

a intelligencia, ficção da superficie e do descaminho.

A vida da materia ou é puro sonho, ou mero jogo atomico, que desconhece as conclusões da nossa intelligencia e os motivos da nossa emoção. Assim a essencia da vida é uma illusão, uma apparencia, e ou ha só ser ou não-ser, e a illusão e apparencia não sendo ser, teem que ser não ser, a vida é a morte.

Vão o exforço que constróe com os olhos na illusão de não morrer! "Poema eterno", dizemos nós; "palavras que nunca morrerão". Mas o esfriamento material da terra levará não só os vivos que a cobrem, com o ☐

Um Homero ou um Milton não podem mais que um cometa que bata na terra.