123123 - Usa Jerónimo Pizarro(442)

Como Diogenes a Alexandre


L. do D.

Como Diogenes a Alexandre, só pedi á vida que me não tirasse o sol. Tive desejos, mas foi-me negada a razão de tel-os. O que achei, mais valera tel-o realmente achado. O sonho ☐

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Tenho construido em passeio phrases perfeitas, de que depois me não lembro em casa. A poesia ineffavel d'essas phrases — não sei se será toda do que foram, se parte do que afinal não foram escriptas.

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Hesito em tudo, muitas vezes sem saber porque. Que de vezes busco, como linha recta que me é propria, concebendo-a mentalmente como a linha recta ideal, a distancia menos curta entre dois pontos. Nunca tive a arte de estar vivo activamente. Errei sempre os gestos que ninguem erra; o que os outros nasceram para fazer, exforcei-me sempre para não deixar de fazer. Desejei sempre conseguir o que os outros conseguiram quasi sem o desejar. Entre mim e a vida houve sempre vidros foscos: não soube d'ella pela vista, nem pelo tacto; nem a vivi em vida ou em plano, fui o devaneio do que quiz ser, o meu sonho começou na minha vontade, o meu proposito foi sempre a primeira ficção do que nunca fui.

Nunca soube se era de mais a minha sensibilidade para a minha intelligencia, ou a minha intelligencia para a minha sensibilidade. Tardei sempre, não sei a qual, talvez a ambas, a uma ou outra, ou foi a terceira que tardou.

Dos sonhadores de millenios — socialistas, altruistas, humanitarios de toda especie — tenho a nausea physica, do estomago. São os idealistas sem ideal. São os pensadores sem pensamento. /Querem a superficie da vida por uma fatalidade de lixo, que boia á tona de agua,/ e se julga bello, porque as conchas dispersas boiam á tona de agua tambem.

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a ☐ dos que não fôram amados, nem queridos, nem ☐, e tiveram da vida uma noção de nausea, um mal-estar das sensações constante, um ☐ da respiração.