[Carta a Alvaro Pinto, 29 de Julho de 1913]


Lisboa, 29 de Julho de 1913

Meu caro Amigo:

Como não vieram no ultimo numero de A Aguia, nem a minha prosa nem os versos do Cobeira e do Côrtes Rodrigues, desejava saber se lá tinham chegado. A minha collaboração iria tarde, provavelmente, mas julguei ter remetido a tempo as outras cousas. O Cobeira foi para Castello Branco (se não tiver ahi o endereço, obtenho-lh'o, para lhe mandar as provas) e as provas do C. R. podem ser mandadas pra minha casa.

Em todo o caso, penso sempre se desagradará ahi qualquer das trez cousas remettidas. O meu amigo sabe que nada mais estimo do que absoluta franqueza n'estes assumptos. O Na Floresta do Alheiamento será ultra-excessivo, em materia de requinte, para que achem prudente que a A Aguia o insira? Diga-m'o francamente.

Sobre as poesias dos outros rapazes, não creio que pudesse haver duvida.

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Tenho tido, nos escriptorios varios por onde espalho traductoriamente o meu conhecimento do inglez, inumeras, constantes cousas que fazer, e isto me tem inhibido, tanto de lhe enviar collaboração para A Vida Portugueza (o que tinha muito empenho em fazer) como de lhe fallar sobre a passagem por aqui do Americo Angelo e do Innocencio Caldeira. E — para acabar as explicações quanto ao primeiro ponto — não tenho encontrado o Boavida Portugal para ao menos lhe pedir um artigo meu, prompto já, que elle tem não sei aonde.

O meu amigo escreveu-me já muito tarde sobre aquillo do Angelo e do Caldeira, e n'um periodo em que eu estava no escriptorio até á meia-noite. Só no sabbadi (elles chegaram aqui no domingo) consegui obter trez cartas que talvez de alguma cousa lhe sirvam. Fiquei de mandar durante a semana seguinte — iriam disse-me o A. A., ainda a tempo — trez outras cartaz, melhores, que o Silva-Passos me prometteu, mas este todos os dias m'as promettia e nunca m'as escreveu. De maneira que — com grande pena, com grandissima pena minha — quasi nada pude fazer do que desejava.

Releve-me isto o meu caro Amigo e disponha sempre (mas escrevendo-me mais antecipadamente)

do seu muito amgº e grato

                                        Fernando Pessôa

P.S. — Por acaso parou A Vida Portugueza? Parece-me que ha um mez que a não recebo. Em todo o caso, não tenho a certeza. Há 15 dias com certeza que não.

                                        F. P.


Identificação: JPC-1982 p. 40
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito : Fac-símile ainda não disponível.
Data: 29-07-1913
Nota: , Carta dirigida a Alvaro Pinto, datada de 29 de julho de 1913. Na edição de Jacinto do Prado Coelho, Maria Aliete Galhoz transcreve excertos desta carta num conjunto de testemunhos iniciais de Fernando Pessoa sobre o "Livro do Desassossego" (1982: XXXV-XLVII).
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