"De que diabo está você a rir"


"De que é que você se está a rir", perguntou-me sem mal a voz do Moreira de entre para lá das duas prateleiras do meu alçado.

"Era uma troca de nomes que eu ia fazendo...", e acalmei [os] pulmões ao fallar.

"Ah", disse o Moreira rapidamente, e a paz poeirosa desceu de novo sobre o escriptorio e sobre mim.

Nem o Bourget, coitado, que custa a ler como uma escada sem elevador... Volto-me para trás do parapeito para ver bem de novo o meu Boulevard de Saint Germain, e justamente nesta altura o socio do roceiro está dar cuspo para a rua. O senhor Visconde de Chautebriand aqui a fazer contas! O senhor professor Amiel aqui num banco alto real! O senhor Conde Alfred de Vigny a debitar o Grandella! Senancour nos Douradores! E entre pensar tudo isto e estar fumando, e não ligar bem uma coisa e outra, o riso mental encontra o fumo, e, embrulhando-se na garganta, expande-se num ataque timido de riso audivel.


Título: "De que diabo está você a rir"
Heterónimo: Não atribuído
Número: 283
Página: 279
Data: 1930 (low)
Nota: [133G-30r];