Final


L. do D.
      Final

E se acaso fallo com alguem longinquo, e se, hoje nuvem de possivel, amanhã caires, chuva de real sobre a terra, não te esqueças nunca da tua divindade original de sonho meu. Sê sempre na vida aquillo que possa ser o sonho de um isolado e nunca o abrigo de um amoroso. Faze o teu dever de mera taça. Cumpre o teu mistér de amphora superflua. Ninguem diga de ti o que /a alma d/o rio pode dizer das margens, que existem para o limitar. Antes não correr na vida, antes seccar de sonhar.

Que o teu genio seja o ser superflua, e a tua vida a arte de olhares para ella, de seres a olhada, a nunca identica. Não sejas nunca mais nada.

Hoje és apenas o perfil creado d'este livro, uma hora carnalizada e separada das outras horas. Se eu tivesse a certeza de que o eras, ergueria uma religião sobre o /sonho de/ amar-te.

És o que falta a tudo. És o que a cada cousa falta para a podermos amar sempre. Chave perdida das portas do Templo, caminho /encoberto/ encoberto do Palacio, Ilha longinqua que a bruma nunca deixa vêr...


Título: Final
Heterónimo: Não atribuído
Número: 79
Página: 93
Data: 1914 (low)
Nota: [4-72];