Deus - Usa (BNP/E3, 94-2r)

Não me encontro um sentido...


Não me encontro um sentido... A vida pesa... Toda a
emoção é de mais para mim... O meu coração é um pri-
vilegio de Deus... A que cortejos pertenci, que um
cansaço de não sei que pompas embala a minha saudade?

E que pallios? que sequencia de estrellas? que ly-
rios? que flammulas? que vitraes?

Porque mysterio á sombra de arvores passaram as me-
lhores fantasias, que n'este mundo tanto se recordam
das aguas, dos cyprestes e dos buxos e não encontram
pallios para os seus prestitos senão entre consequen-
cias de se abster?

                Kaleidoscopio.

Não falles... Aconteces demasiado... Tenho pena de
te estar vendo... Quando serás tu apenas uma saudade
minha? Até lá quantas tu não serás! E eu ter de
julgar que te posso ver é uma ponte velha onde
ninguem passa... A vida é isto. Os outros abandona-
ram os remos... Não ha já disciplina nas cohortes...
Fôram-se os cavalleiros com a manhã e o som das lan-
ças... Teus castellos ficaram esperando estar deser-
tos... Nenhum vento abandonou os renques das arvores
ao cimo... Porticos inuteis, baixellas guardadas,
prenuncios de prophecias — isso pertence aos crepus-
culos prosternados nos templos e não agora, ao en-
contrarmo-nos, porque não ha razão para tilias dando
sombra senão teus dedos e o seu gesto tardio...

Razão de sobra para territorios remotos... Tratados
feitos por vitraes de reis... Lyrios de quadros re-
ligiosos... Por quem espera o sequito?... Por onde
se ergueu a aguia perdida?