Marcha funebre


      Marcha funebre

Figuras hieraticas,
de hiearchias ignotas,
se alinham nos corre-
dores a esperar-te —
pajens de doçura frescura loura,
jovens de

em scintillares dispersos
de laminas nuas, em
reflexos irregulares de
capacetes e adornos
altos, em vislumbres sombrios
de ouro fosco e sedas.

Tudo quanto a imaginação
adoece, o que de funebre
doe nas pompas, e cança
nas victorias,


o mysticismo do nada, a ascese da
absoluta negação.

O Ganges passa tambem
pela Rua dos Douradores.
Todas as epocas estão
neste quarto estreito —
a mistura
a sucessão multicolor
das maneiras,
as distancias dos povos,
e a vasta variedade
das nações
───────────────

E alli, em extase
numa só rua, sei
esperar a Morte
entre gladios e
ameias.

Não os septe palmos de
terra fria que se fecham
sobre os olhos fechados
sob o sol quente e ao
lado da herva verde, mas a
morte que excede a
nossa vida e é uma
vida ella mesma — uma


morta presença em algum deus,
o ignoto deus da religião dos mesmos deuses.
que porventura os Deuses lembram.



Identificação: bn-acpc-e-e3-114-1-1-119_0036_18v_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (21.4cm X 27.7cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis.
Data: 31-05-1929 (high)
Nota: , Texto escrito no verso de uma folha que contém uma carta comercial no recto. Foi escrito ao longo dos quatro espaços delimitados pelas dobras do papel. A carta comercial em inglês datilografada a tinta azul está datada de 31 de maio de 1929. Jerónimo Pizarro edita esta carta (114(1)-18r) como anexo ao texto 188 (2010: 760).
Fac-símiles: BNP/E3, 114(1)-18v.1 , BNP/E3, 114(1)-18v.2