Quantas vezes, no decurso dos mundos


Quantas vezes, no decurso dos mundos, não terá um cometa errante posto fim a uma Terra! A uma catástrofe tão da matéria está ligada a sorte de tanto projecto do espírito. A Morte espreita, como uma irmã do espírito, e o Destino ☐

Morte é o estarmos sujeitos a um exterior qualquer, e nós, em cada momento da nossa vida, somos um reflexo e um efeito do que nos cerca.

A morte subjaz o nosso gesto vivido. Mortos nascemos, mortos vivemos, mortos já entramos na morte. Compostos de células vivendo da sua desagregação somos feitos da morte.


Título: Quantas vezes, no decurso dos mundos
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 305
Página: 294
Nota: [49A6-1, ms.];
Nota: Richard Zenith indica que a penúltima frase de "Quantas vezes", com outra pontuação, figura no sexto parágrafo do trecho "Marcha Fúnebre" (138A-33 e 138A-34r).