Ler o Escrever - Usa LdoD-Arquivo(308)

As cousas mais simples


As cousas mais simples, mais realmente
simples, que nada pode tornar semi-simples,
torna-m'as complexas o eu vivel-as.
Dar a alguem os bons dias , por vezes intimi-
da-me. Secca-se-me a voz, como
se houvesse uma audacia extranha em
ter essas palavras em voz alta. É uma
especie de pudor de existir — não tem outro nome!

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A analyse constante temperamental das nossas
sensações cria um modo novo de sentir,
que parece artificial a quem analyse com a
intelligencia, que não com a propria sensação.
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Toda a vida fui futil metaphysica-
mente, serio a brincar. Nada fiz a
serio, por mais que quizesse. Divertiu-se
em mim comigo um Destino malin.
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Ter emoções de chita, ou de seda, ou de
brocado! Ter emoções descriptiveis assim!
Ter emoções descriptiveis!

Sobe por mim na alma um arrependimento
que é de Deus por tudo, uma paixão surda
de lagrimas pela condemnação dos sonhos
na carne dos que os
sonharam... E odeio sem odio todos
os poetas que escreveram versos, [[ todos os
idealistas que quizeram ver o seu ideal, todos
os que conseguiram o que queriam ]]

Vagueio indefinidamente nas ruas socegadas,
ando até cansar o corpo em a accordo
com a alma, dôe-me até aquelle
extremo da dôr conhecida que tem um
goso em sentir-se, uma compaixão ma-
terna por si-mesma, que é musi-
cada e indefinivel.
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Dormir! Adormecer! Socegar! Ser
uma consciencia abstracta de respirar
socegadamente, sem mundo,
sem astros, sem alma — mar morto
de emoção reflectindo uma ausencia
de estrellas!