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MARCHA FÚNEBRE PARA O REI LUÍS SEGUNDO DA BAVIERA | Senhor Rei do Desapego


Senhor Rei do Desapego e da Renúncia, Imperador da Morte e do Naufrágio, sonho vivo errando, faustuoso, entre as ruínas e as estradas do mundo!

Senhor Rei da Desesperança entre pompas, dono doloroso dos palácios que o não satisfazem, mestre dos cortejos e dos aparatos que não conseguem apagar a vida!

Senhor Rei erguido dos túmulos, que vieste na noite e ao luar, contar a tua vida às vidas, pajem dos lírios desfolhados, arauto imperial da frieza dos marfins!

Senhor Rei Pastor das Vigílias, cavaleiro andante das Angústias, sem glória e sem dama ao luar das estradas, senhor nas florestas, nas escarpas, perfil mudo, de viseira caída, passando nos vales, incompreendido pelas aldeias, chasqueado pelas vilas, desprezado pelas cidades!

Senhor Rei que a Morte sagrou Seu, pálido e absurdo, esquecido e desconhecido, reinando entre pedras foscas e veludos velhos, no seu trono ao fim do Possível, com a sua corte irreal cercando-o, sombras, e a sua milícia fantástica, guardando-o, misteriosa e vazia.

Trazei, pajens; trazei, virgens; trazei, servos e servas, as taças, as salvas e as grinaldas para o festim a que a Morte assiste! Trazei-as e vinde de negro, com cabeça coroada de mirtos.

Mandrágora seja o que tragais nas taças, ☐ nas salvas, e as grinaldas sejam de violetas e ☐, das flores todas que lembrem a tristeza.

Vai o Rei a jantar com a Morte, no seu palácio antigo, à beira do lago, entre as montanhas, longe da vida, alheio ao mundo.

Sejam de instrumentos estranhos, cujo mero som faça chorar, as orquestras que se preparam para a festa. Os servos vistam librés sóbrias, de cores desconhecidas, faustosos e simples como os catafalcos dos heróis.

E, antes que o festim comece, passe pelas alamedas dos largos parques o grande cortejo medieval de púrpuras mortas, o grande cerimonial silencioso em marcha, como a beleza num pesadelo.

A Morte é o triunfo da Vida!

Pela morte vivemos, porque só somos hoje porque morremos para ontem. Pela morte esperamos, porque só podemos crer em amanhã pela confiança na morte de hoje. Pela Morte vivemos quando sonhamos, porque sonhar é negar a vida. Pela morte morremos quando vivemos, porque viver é negar a eternidade! A Morte nos guia, a morte nos busca, a morte nos acompanha. Tudo o que temos é morte, tudo o que queremos é morte, é morte tudo o que desejamos querer.

Uma brisa de atenção percorre as alas.

Ei-lo que vai chegar, com a morte que ninguém vê e a ☐ que não chega nunca.

Arautos, tocai! Atendei!

Teu amor pelas coisas sonhadas era o teu desprezo pelas coisas vividas.

Rei-Virgem que desprezaste o amor,
Rei-Sombra que desdenhaste a luz,
Rei-Sonho que não quiseste a vida!

Entre o estrépito surdo de címbalos e atabales, a Sombra te aclama Imperador!

... e ao fundo a Morte como todo o Céu.