Os teus colares de pérolas fingidas amaram comigo…


Os teus colares de perolas fingidas amaram commigo as minhas horas melhores. Eram cravos as flores preferidas, talvez porque não significavam requintes. Os teus labios festejavam sobriamente a ironia do seu proprio sorriso. Comprehendias bem o teu destino? Era por o conheceres sem que o comprehendesses que o mysterio escripto na tristeza dos teus olhos sombreara tanto os teus labios /desistidos/. A nossa Patria estava demasiado longe para rosas. Nas cascatas dos nossos jardins a agua era pellucida de silencios. Nas pequenas cavidades rugosas das pedras, por onde a agua escolhia, havia segredos que tiveramos quando creanças, sonhos do tamanho parado dos nossos soldados de chumbo, que podiam ser postos nas pedras da cascata, na execução estatica d'uma grande acção militar, sem que faltasse nada aos nossos sonhos, nem nada tardasse às nossas supposições.


Título: Os teus colares de pérolas fingidas amaram comigo…
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: I
Número: 266
Página: 302 - 303
Nota: [5-45, ms. pt.];