Sabendo como as cousas mais pequenas
L. do D.
Sabendo como as cousas mais pequenas teem com facilidade a arte de me torturar, de proposito me esquivo ao toque das cousas mais pequenas. Quem, como eu, soffre porque uma nuvem passa deante do sol, como não há-de soffrer no escuro do dia sempre encoberto da sua vida?
O meu isolamento não é uma busca de felicidade, que não tenho alma para conseguir; nem de tranquillidade, que ninguem obtem senão quando nunca a perder, mas de somno, de apagamento, de renuncia pequena.
As quatro paredes do meu quarto pobre são-me, ao mesmo tempo, cella e distancia, cama e caixão. As minhas horas mais felizes são aquellas em que não penso nada, não quero nada, não sonho sequer, perdido num torpor de vegetal /errado,/ de mero /musgo/ que crescesse na superficie da vida. Goso sem amargor a consciencia absurda de não ser nada, o ante sabor da morte e do apagamento.
Nunca tive alguem a quem pudesse chamar "Mestre". Não morreu por mim nenhum Christo. Nenhum Budha me indicou um caminho. No alto dos meus sonhos nenhum Apollo ou Athena me appareceram, para que me iluminassem a alma.