Se houvessemos de buscar um characteristico especial,
pelo qual distinguissemos a nossa epocha, não seriamos sim-
ples hospedes da verdade se dissessemos que esse character-
istico é a incapacidade de grandeza. Nunca houve no mundo,
cremos, epocha tam apoucada e mesquinha. Somos incapazes de
pensamento profundo, de emoção intensa, de acção co-
ordenadamente
superior. Somos os artificiaes e os provincia-
nos
de nós mesmos. Nem se poderia descrever ∧melhor o que está acon-
tecendo,
nas almas e no mundo, do que ∧dando-lhe
o nome de provincianização da Europa.
Que não seja essa a opinião que formamos de nós mesmos,
não obsta a que seja verdadeira; nem é facto abstruso ou in-
comprehensivel que ninguem seja o melhor juiz do proprio me-
recimento. Confundimos, porém, no fazer d'este juizo, a quan-
tidade com ∧e a qualidade, a singularidade com ∧e a superioridade,
a actividade [e] a acção.
Como a extensão da educação e a agitação constante de
problemas intellectuaes produzem, digamos, dez homensde ta-
lento
por cada um que havia antigamente, concluimos que somos
superiores. Porém por cada cinco homens de genio que antiga-
mente
houvesse produzimos hoje nenhum. Como dez talentos não
sommam um genio, uma epocha de muitos talentos não é, nem
val, uma epocha de um genio só.