Na destruição da unidade


Na destruição da unidade do meu espirito, libertei pequenos impulsos bem capazes de se inhibirem e esconderem, por subtis e fortes, mas grandes bastante para serem sacrificadamente instinctos, instinctos realizaveis.

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Sonhando tanto, tornei-me nitido no sonho, mas, chegando ao ao vêr-me em sonhos tal qual sou, feio e grotesco, do proprio sonho me faltou.

Nem posso ter compaixão de mim, porque não chego a ser corcunda ou côxo ou maneta. Sou totalmente inesthetico.

Como saber de amor se nem em sonhos me julgo digno d'isso?

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A Tragedia do Espelho. Os antigos mal se viam a si-proprios. Hoje vemo-nos em todas as posições. D'ahi o n[osso] pavor e o n[osso] nojo por nós.

Todo o homem precisa, para poder viver e amar de se idealizar a si-proprio (e, no fim, áquelles a quem ame). Amamo-nos p[ar]a isso. Desde o momento em que me visiono e me comparo a um ideal, não m[ui]to alto, ainda que baixo, de belleza humana, desisto da vida real e do amor.


Título: Na destruição da unidade
Heterónimo: Não atribuído
Número: 571
Página: 509
Nota: [133B-61, 63 e 64];
Nota: Jerónimo Pizarro edita este texto em apêndice, no conjunto "Textos sem destinação certa inventariados fora do núcleo" (2010: 490-516).